CEEE EM PAUTA 4| “Os apagões se multiplicam pelo Estado”

Privatizada em 2017, a estatal de distribuição de energia Celg-D passou às mãos da italiana Enel e, desde então, segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas no Estado de Goiás (STIUEG), João Maria de Oliveira, registrou piora dos serviços, apagões frequentes e reajuste de 30,6% das tarifas. De acordo com ele, a empresa vinha sendo sucateada por sucessivos governos, não recebia investimentos e acumulava dívidas.

O STIUEG representa funcionários de saneamento e energia de Goiás, onde a Celg-D teve 95% de suas ações vendidas para a Enel por R$ 2,187 bilhões. Do montante, R$ 1,065 bilhão foram destinados à Eletrobras e R$ 1,122 bilhão ao governo daquele Estado, os dois proprietários. As dívidas, um total de R$ 1,9 bilhão segundo dados do sindicato, ficaram com o Estado e, segundo a Secretaria Estadual de Economia, apenas R$ 800 milhões foram efetivamente recebidos pelos cofres estaduais em razão de impostos.

A empresa italiana foi a única a apresentar proposta no leilão de privatização da distribuidora goiana, ocorrida durante o governo de Marconi Perillo (PSDB) e questionada pela atual gestão, de Ronaldo Caiado (Democratas). Segundo Oliveira, falta de manutenção preventiva, apagões constantes, prejuízos ao agronegócio e fila para se conseguir uma ligação de energia elétrica estão entre os problemas pós-privatização. Sem uma cláusula de estabilidade no contrato de venda, mais de 1,2 mil profissionais foram demitidos. Confira, abaixo, entrevista concedida por ele à reportagem da União Gaúcha:

União Gaúcha – Em que situação estava a Celg-D quando ocorreu a privatização em 2017 e quais foram os argumentos para a venda?

João Maria de Oliveira – A privatização foi planejada. Houve, nos sucessivos governos, vários ataques à estrutura da empresa estatal, como o sucateamento proposital, a falta dos devidos investimentos, a falta de realização de concursos públicos em favor da contratação da força de trabalho terceirizada. Caiu sobremaneira a qualidade dos serviços, dada a alta rotatividade desse pessoal, e a empresa acabou por cair em desgraça. A qualidade dos serviços foi ficando muito baixa. Foi uma estratégia, um  sucateamento proposital, como forma de levar a opinião pública a defender a privatização. Isso leva a entender que a única saída diante do estado de dificuldades por falta de recursos do governo federal, por falta de recursos do governo estadual, é a privatização, para devolver a esperança e o progresso do Estado. Só a iniciativa privada pode resolver os problemas de investimentos necessários.  Fizemos várias denúncias, a Celg contava com mais de 50 empresas terceirizadas, muitas dessas ligadas a grupos políticos do Estado, a próprios diretores da empresa. O Ministério Público teve atuação nessas apurações a todo o tempo, muitas denúncias de desvios. Houve mau uso, mesmo, dessa estrutura pública para justificar essa privatização. Lembro que tivemos um governador (Alcides Rodrigues) que, diante do processo todo que ele viu da empresa, buscava uma saída que não  era  a privatização, era a  federalização com controle do Estado. Ocorre que, na troca do governo, com a volta do governo Marconi Perillo (PSDB), ele (Perillo) rasgou esse  acordo, não quis, porque visava somente a privatização.

União Gaúcha – Além dos problemas relacionados à qualidade do serviço, a Celg tinha dívidas?

João Maria de Oliveira – Sim, tinha dívidas. E o que é interessante é que, mesmo com os problemas todos, ela tinha ainda nos seus quadros 2.100 profissionais de carreira, que conhecem muito bem o sistema. Ela ainda conseguia prestar serviço, e melhor do que hoje. Muito melhor do que hoje. Hoje, a gente dá conta de mensurar isso. A saída que Marconi Perillo viu foi rasgar o acordo da federalização, não aceitou, não concordou, e buscar um parceiro privado para comprar a empresa. Foram grandes batalhas, grandes lutas que travamos aqui tentando conscientizar. Ficamos como a única entidade desse Estado, entidade de classe, defendendo contra esse processo, porque seria um retrocesso, a gente já observava as experiências de outros Estados do Brasil, e a gente via que não era a alternativa viável. Mas as idas e vindas, as lutas todas foram em vão, porque o poder, o braço do governo, é muito forte, e ele botou as entidades de classe, a federação das  indústrias, a federação do comércio, sindicatos rurais, representantes do agronegócio, todos para dizer que era preciso alavancar o Estado e só a privatização realmente traria o novo futuro, a nova esperança e prosperidade para o Estado alavancar seu progresso e seus negócios. E conseguiram fazer.

União Gaúcha – O acordo para a federalização já estava encaminhado?

João Maria de Oliveira – O acordo já estava bem adiantado e ele (Perillo) desistiu.

União Gaúcha – Mas não estava assinado ainda?

João Maria de Oliveira – Não era nada assinado. Faltava, basicamente, a assinatura mesmo. Estava tudo costurado, tudo acertado.

União Gaúcha – A dívida ficou para o Estado ou para a iniciativa privada?

João Maria de Oliveira – Esse negócio é da China. Apesar de terem sido os italianos que levaram, é um negócio da China que foi feito. Foi criado o Funac, Fundo de Aporte à Celg Distribuição, que assumiu todos os compromissos, todas as dívidas. O governo aprovou na Assembleia Legislativa, já que ele tinha maioria, esse fundo, para honrar todas as dívidas que até então tinha, isentando o futuro comprador de qualquer responsabilidade sobre isso.

União Gaúcha – O Estado, então, que arcou com isso?

João Maria de Oliveira – Exatamente. Jogou para cima do contribuinte. Entregou uma estatal, um patrimônio dos goianos, e ficamos com as dívidas. Esse pessoal assumiu uma estrutura pronta, só para arrecadar mesmo.

União Gaúcha – Depois da privatização, como ficou o serviço?

João Maria de Oliveira – A Enel, uma estatal italiana, gigante do setor energético mundial, que a gente chama de a toda poderosa Enel e está em boa parte do mundo, chega em Goiás como uma das piores privadas que a gente já pôde ver. O primeiro investimento que ela fez foi na demissão dos profissionais que tinha. É importante ressaltar que nenhuma cláusula de acordo de estabilidade, de segurança para os profissionais que ingressaram na empresa via concurso público, foi dada, nada foi garantido a eles. Então, a primeira ação da empresa foi fazer programas de demissões voluntárias. Essas demissões eram veladas, porque o chefe imediato do profissional dizia: “vai sair um PDV, um Programa de Demissão Voluntária, e é importante que você faça a adesão, porque depois desse PDV não tem o que fazer, alguns setores da empresa vão mudar, vão fechar, vai haver reestruturação. Ou tu sai com incentivo ou vai sair só com a botina”. Isso causou um estardalhaço muito grande a ponto de profissionais com cinco, 10, 15, 20 e 25 anos de empresa, pessoas que se dedicavam ali, saindo nessas condições. Os que resistiram e foram ficando começaram a sofrer um estado de adoecimento muito grande, porque uma das premissas dessa empresa é trabalho sob pressão. Ela assedia moralmente os seus profissionais, e se tornou um ambiente doentio, insalubre, um ambiente terrível onde os profissionais que ficaram começaram a sofrer seríssimos transtornos,  com a insegurança, as ameaças veladas a todo tempo. E as demissões não paravam. Quando eles fechavam um PDV, passava uns dias e outro bloco de pessoas era demitido sumariamente e da forma mais perversa e criminosa possível. As pessoas eram comunicadas que estavam sendo chamadas à capital e lá, chegavam no RH e recebiam a notícia da demissão. O chefe imediato não dava a notícia para eles. O sindicato se tornou um ambiente onde as famílias iam lamentar, chorar, porque era como se o chão sumisse de baixo dos pés. Foi uma fase muito triste e muito difícil para nós todos.

União Gaúcha – As demissões ocorreram ainda em 2017 ou em 2018?

João Maria de Oliveira – Foi na transição de 2017 para 2018.

União Gaúcha – Quantas pessoas foram demitidas?

João Maria de Oliveira – Mais de 1.200 pessoas dessas 2.100 que eram efetivas foram demitidas nesse processo. E, aí, a empresa vai perdendo. E a gente começa a assistir um sucamenteamnto diferente, que é o sucateamento intelectual. A Celg estava num estado de falta de investimentos, sucateamento proposital, mas tinha bons profissionais, e esses seguravam o sistema. Essas pessoas foram demitidas. A gente ficou sem entender como uma empresa como a Enel, que é gigante do setor, comprou sabendo o que estava comprando, assume o risco de demitir esses profissionais sem fazer nenhum tipo de investimento primeiramente, sem conhecer o sistema, sem treinar pessoas, preparar pessoas para assumir isso. E, aí, a casa cai de vez. Os apagões se multiplicam pelo Estado.

União Gaúcha – Como são esses apagões?

João Maria de Oliveira – Os apagões começaram a ser o seguinte: não precisa ser período chuvoso. O sistema começou a desarmar, começou a cair do nada, com sobrecargas no sistema. E quem não conhecia não conseguia operar, não conseguia fazer isso funcionar. Precisava de investimento? Precisava. Foi feito? Não foi feito. O pessoal técnico que conhecia estava fora da empresa. E isso ocorria na zona rural e na área urbana. O desastre que foi e está sendo imposto até hoje a nós é gigantesco. Aqui, foi muito rápido, negócio de um ano ou um ano e três meses, a população ficou horrorizada de ver o que estava acontecendo. E a equipe pequena, reduzida, começou a sofrer uma grandiosa sobrecarga de trabalho, de cobranças, e os assédios morais aumentaram. Chegou o período chuvoso, os problemas se multiplicaram. Temos históricos da zona rural, pessoal do agronegócio, as indústrias da zona rural, pessoal que trabalha com processamento de leite, começaram a ter prejuízos e perdas gigantescas. Os criadores de frango, os que atuam com confinamento de boi, que nosso Estado é muito forte nisso, os prejuízos foram gigantescos, a ponto de os protestos começarem a surgir, especialmente pelo pessoal do campo, da zona rural. O agronegócio começou a se manifestar através de suas entidades, sindicatos rurais. Começaram protestos por todo Estado. Onde tinha unidades da empresa, o pessoal começou a ir para a porta jogar leite, jogar frangos mortos. Começaram ataques aos trabalhadores, e a empresa sem conseguir dar respostas. Outro fator agravante é que, antes do período chuvoso chegar,e esse foi outro erro estratégico, ela fechou unidades de atendimento em boa parte das cidades. Pequenas cidades em que tinha escritórios, fechou-se. Só atendida através de aplicativo, celular ou 0800. Fechou aquele atendimento presencial. Eu moro numa cidade que tínhamos 16 equipes para fazer o plantão, 16 veículos para atender a demanda, e a empresa diminuiu para quatro veículos atender uma cidade de mais de 100 mil habitantes, a zona rural e cidades vizinhas. Então, hoje, nas cidades menores, quando a pessoa precisa de um recurso, ela tem que entrar no aplicativo ou 0800, precisa que unidade se desloque até a cidade, gasta 30 ou 40 minutos para se deslocar até a cidade, para ir resolver o problema. Já temos relatos de equipes se deslocarem mais de 300 quilômetros para atender falta de energia. Tudo falta de planejamento. O Ministério Público e o judiciário começam a intervir. Aí, troca o governo do Estado, vem o governo Caiado (Ronaldo Caiado, Democratas). Na verdade, Marconi Perillo perdeu a eleição por conta da privatização da Celg, porque o negócio deu errado e ele colheu, nas urnas, os espinhos que plantou. Ele perde a eleição para o Caiado. Era muito difícil isso acontecer se ele não tivesse privatizado a Celg. Como privatizou, deu errado e o povo estava muito revoltado. O Caiado ganhou a eleição muito fácil, até porque é representante do agronegócio, que estava muito revoltado com tudo isso. Isso beneficiou o governador Caiado, que chega com um discurso de quebrar a privatização. Ele chega com esse discurso de quebrar o contrato, de rever, revogar lei pela Assembleia Legislativa. Ele declarou guerra à Enel, revogou leis, entrou com mandados judiciais, fez tudo o que podia. Mas é um contrato muito bem feito, uma vez feito, não tem como quebrar. Nós participamos de audiências públicas por todo o Estado de Goiás. A Assembleia Legislativa de Goiás montou uma Comissão, a CPI da Enel. Essa CPI, em 2019, rodou as cidades polos do Estado. Fez audiências públicas com todos os segmentos da sociedade, ouvindo a população. Acredite você, dessas audiências, acompanhei mais de 50%, nunca houve um consumidor que elogiasse a empresa. A empresa contratou o presidente da OAB (de Goiás), que é um advogado renomado no Estado, para fazer sua defesa nessas audiências. Ao final, ele se pronunciava e parecia que era a OAB que estava fazendo a defesa da Enel. Essa CPI apurou algumas coisas, mas, no final, não deu o resultado esperado porque as forças políticas e do dinheiro parecem muito fortes. As forças do governador parecem que foram acabando, alguma coisa foi acontecendo, e, hoje, você não vê mais esse enfrentamento do governo com a Enel, apesar de ela continuar prestando um péssimo serviço. A Enel faz investimentos somente para garantir a revisão tarifária, o aumento da tarifa. A rede precisa ser trocada, o poste está caindo. Ela não vai trocar o poste que está caindo. Se o poste cair e a rede ir para o chão, ela troca. Mas ela não faz manutenção preventiva, porque isso é despesa. Ela vai investir na subestação, em religadores, porque isso garante aumento tarifário, a revisão da tarifa. Então, ela mostra nas planilhas dela que está fazendo investimentos. Mas é um investimento tão engraçado, porque é como se botasse motor de Ferrari em um Corcel. Essa energia vai sair dali tão potente que você não tem rede para suportar. Precisa de manutenção na ponta também, e isso ela não faz. Ela só visa o lucro a todo o tempo. E a população sofre. Eles conseguiram reajustes tarifários que há muitos anos a Celg não reajustava porque não batia metas, não atingia porque não tinha investimentos. A Enel buscou isso, buscou investimento que priorizava o aumento da energia. Então, a energia aqui subiu absurdamente. Temos tarifa alta, baixíssima qualidade dos serviços e hoje temos pessoas na fila da espera na busca de ligações novas de energia porque não tem medidor na empresa. Aí, tem fila. Sem medidor, a empresa não liga, porque é prejuízo para ela. É a ótica do lucro que impera, a população não tem a quem recorrer. A a gente ficou falando sozinho lá atrás, que a coisa ia dar nisso, e deu muito antes do que a gente imaginava. A gente sabia que ia dar errado, mas foi muito rápido. Então, a gente, que estava sozinho, começou a ganhar força, vozes. A imprensa do Estado nos ouvindo todo o tempo, conversando, pedindo informações, porque a Enel não dá, porque agora é um negócio, tem dono, não é público. O negócio foi terrível e está sendo. Essa empresa arrecada mais de R$ 8 bilhões, gasta 1% do seu faturamento com folha de pessoal. No ano passado, o negócio foi tão sério aqui no Estado, foi tão grave, e a gente está temendo isso de novo agora que vai chegar o período chuvoso. Tivemos apagões em grandes centros e em lugares pequenos. A Enel conseguiu socializar a desgraça. Pobre e rico estão juntos,  em pé de igualdade. Agora, muitos grupos já instalaram geradores. Até uma empresa montou unidade aqui, porque o melhor negócio no Estado de Goiás é vender geradores, não tem energia. As próprias  unidades da Enel têm geradores. O que eles fizeram: a coisa ficou tão séria com Judiciário, Ministério Público e imprensa batendo de manhã, de tarde e de noite, que eles trouxeram  equipes de São Paulo, do Ceará, para compor o quadro de profissionais aqui em Goiás, porque eles precisavam ter eletricistas a tempo e a hora e não tinham à disposição. Trouxeram ônibus e ônibus. Mas energia é um sistema complexo. Por que a gente defende que o serviço tem que ser público? Porque esse sacerdócio permite que o profissional conheça como a palma da sua mão a região. Quando dá um blackout, ele conhece o sistema. Essas empresas terceirizadas, que a Enel gosta de chamar de parceiras, trabalham com alta rotatividade e não conseguem devolver aquele padrão de qualidade. O pessoal não conhece região, GPS não adianta. A ponto de trazerem esse pessoal de fora, muita gente, para ajudar, O pessoal trabalhando 24 horas sem parar, sem descanso, pequenos e grandes acidentes acontecendo. Os apagões eram tantos que eles contrataram quatro helicópteros, botaram equipe dentro. Só que helicóptero não carrega escada, não faz um monte de coisa. Botaram equipes para sobrevoar as redes, achar os defeitos, comunicar alguém em terra, para se deslocar para onde estava o problema, ver de perto e acionar equipe maior para resolver o problema. Olha o ponto que chegamos? É surreal o que está acontecendo aqui.

União Gaúcha – E quanto tempo se levava para resolver problema nessa situação?

João Maria de Oliveira – Tivemos relatos de cidades ficarem mais de 20 horas sem energia, regiões inteiras. Na zona rural, temos relatos de ficar mais de uma semana sem energia, regiões inteiras com prejuízo total de tudo que era produzido. E é algo que a gente está temendo agora, porque serenou anteontem (21 de setembro) e a capital e o interior já ficaram sem energia. Mas é comum faltar energia aqui com sol a pino. O sistema desaba. As manutenções preventivas como, por exemplo, poda de árvores: ninguém precisa dizer que no período chuvoso tem tempestades, tem vento, e as árvores caem sobre a rede. A Enel parece que desconhece isso, não faz o mínimo necessário, então, os problemas surgem porque as coisas não são levadas a sério. Parece que eles têm um contrato em mãos que todo mundo tem que morrer na mão deles, depende deles, e, assim, estamos passando e sofrendo as consequências dessa privatização desastrosa sob todos os aspectos. Se alguém daí, uma comissão for formada no Rio Grande do Sul e vier visitar esses serviços, ficar aqui pelo menos uma semana para conhecer essa realidade que estou falando, pode ser a organização que defende a privatização, ela vai repensar essa situação.

União Gaúcha – A intenção de reestatização, então, foi deixada de lado pelo governo?

João Maria de Oliveira – Ele praticamente desistiu. A última audiência pública que eu participei foi dentro do Senado Federal. O governador Caiado disse que em agosto vencia o prazo para que eles apresentassem o plano de metas e investimentos realizados para não chegar o período chuvoso e repetir o que aconteceu. E aí que mora o perigo, porque veio a pandemia e essas metas não foram atingidas. Agora, temos outro ingrediente, o que leva a crer que o problema vai se repetir.

União Gaúcha – Qual o período de chuvas em Goiás?

João Maria de Oliveira – Agora. Começa no final de setembro para outubro e vai janeiro adentro. Vai se firmar mais na segunda quinzena de outubro.

União Gaúcha – E todo esse período foi caótico desde que eles assumiram?

João Maria de Oliveira – Sempre. Aqui, nunca, ninguém teve sossego. Dona de casa, comerciante, indústria, agronegócio, zona rural, cidade, bairro pobre, bairro nobre, ninguém escapa. É um desastre total.

União Gaúcha – E não era tão ruim com a estatal?

João Maria de Oliveira –  Era ruim, só que eles conseguiram piorar o que já era ruim. E, pasme, a empresa privada que era a salvadora.

União Gaúcha – A ANEEL em relação a tudo isso tem um papel fiscalizador?

João Maria de Oliveira – A ANEEL, infelizmente, quando era a Celg, era um leão para fiscalizar. Agora, com a empresas privada, ela age como um gatinho. A Enel foi multada, pesadas multas, mas na audiência pública que a gente estava lá com o Caiado, o presidente da Enel e a ANEEL, a gente viu a ANEEL fazer a defesa da Enel, se comportar de uma forma absurda, e o governador fazer ameaças à direção da Enel de quebra de contrato, falando em tom político. O pessoal da Enel fazendo cara de paisagem e a ANEEL sem dar aquele devido corretivo, sem se colocar do lado da população, que é quem precisa de qualidade. Então, a gente não tem a quem recorrer, essa é a grande verdade.

União Gaúcha – O senhor gostaria de colocar algo que não foi perguntado?

João Maria de Oliveira – Nosso sindicato tem o que mostrar na prática, na realidade. Não é só falação, não é só questão ideológica, não. A gente vive um desastre na prática. No meio da pandemia, você vê uma empresa recorrer à Justiça para garantir o direito de cortar a energia das pessoas. É o dinheiro que manda. As pessoas estão sendo penalizadas, elas . pagam por serviços que não pagavam quando era estatal. Tudo é lucro. Uma ligação de energia, por exemplo, se você fosse fazer em determinado local da cidade, primeiro se olhava a viabilidade. A Enel também olha a viabilidade e fala quanto custa a viabilidade. O que se torna inviável, porque as pessoas não têm dinheiro para pagar. Já custa pagar a energia, ainda tem que pagar uma ligação caríssima. A empresa pública visa o bem-estar, ela tem um compromisso social de dar dignidade para as pessoas. Então, ela faz aquele investimento sabendo que se colocar energia ali, outra casa vai levantar do lado, um comércio vai levantar, porque já tem energia. Ela tem o olhar cuidadoso. A empresa pública tem um compromisso social, que a privada não tem. E (a empresa privada) ainda tem um monopólio poderoso nas mãos, como a questão da energia.

Reportagem: Carla Dutra

Fotos: Divulgação

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