Regimes próprios perdem com um fundo diferente

O fundo de investimento Diferencial Renda Fixa Longo Prazo passou de um patrimônio líquido de aproximadamente R$ 90 milhões em abril de 2011 para ativos totais ao redor de R$ 630 milhões depois de 15 meses, em julho de 2012. Descontada a rentabilidade, a captação líquida foi de cerca de R$ 455 milhões e a quantidade de cotistas saltou de 14 para 42. Foi um dos melhores desempenhos da indústria de fundos.
A carteira é oferecida apenas para investidores qualificados. Teoricamente, são aplicadores que possuem aprofundado conhecimento sobre o mercado financeiro e reúnem patrimônio suficiente para suportar eventuais perdas na carteira.
O foco do fundo é atender a demanda dos institutos de regime próprio da previdência social (RPPS). Na prática, os RPPS são fundos de pensão que garantem a aposentadoria de servidores estaduais e municipais.
Formados a partir da soma de contribuições dos funcionários públicos com os recursos do orçamento de estados e prefeituras, o montante arrecadado pelo RPPS é investido no mercado financeiro para formar uma reserva patrimonial. Quanto maior a carteira do RPPS, mais segura estará a aposentadoria dos servidores.
O objetivo do fundo Diferencial é obter rentabilidade superior ao rendimento médio das Notas do Tesouro Nacional da série B (NTNs-B), indexadas à inflação. Como a meta atuarial de boa parte dos institutos de previdência é de inflação mais 6% ao ano, a aplicação na carteira parecia uma boa alternativa.
O regulamento do fundo dá a liberdade para o gestor da carteira concentrar as aplicações em ativos prefixados ou referenciados a outros indexadores, se achar mais conveniente. O gestor pode modificar a carteira da forma que julgar mais conveniente.
O administrador do fundo Diferencial é o BNY Mellon e o gestor da carteira era a Diferencial CTVM. Em agosto deste ano, o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial da Diferencial CTVM e a gestão da carteira acabou sendo transferida para outra instituição, a Drachma Investimento. Os serviços de tesouraria e custódia são prestados pelo Bradesco.
Com os recursos que foram captados desde abril de 2011, o fundo Diferencial investiu, principalmente, em títulos prefixados de longo prazo. Em julho de 2012, 34% da carteira eram formados por papéis prefixados com vencimento em 2025, 2029 ou 2030 de emissão dos bancos BVA, Panamericano e Rural.
Títulos públicos federais com taxa flutuante ou com vencimento em até 12 meses e fundos da categoria Curto Prazo representavam 47% da carteira. A diferença era aplicada nos CDBs das mesmas instituições com prazos de vencimento em até oito anos.
A taxa de administração do fundo Diferencial é de 1,5% ao ano. Além disso, existe uma taxa de performance de 10% sobre o que exceder a rentabilidade do IMA-B. Mas o gestor da carteira não fez jus ao prêmio. Nos 15 meses entre maio de 2011 e julho de 2012, a rentabilidade do fundo foi de 24,87%, inferior à variação de 29,59% do IMA-B.
Apesar de não conseguir cumprir o objetivo proposto, a rentabilidade do fundo Diferencial superou, no mesmo período, a variação do IPCA mais 6% ao ano, a meta atuarial dos institutos de previdência. Talvez por essa razão a maioria dos clientes do fundo não tivesse reclamado da política de investimento tão pouco usual e aceitasse, sem maiores preocupações, as condições de resgate das cotas.
Para sacar os recursos do fundo Diferencial o investidor precisa esperar 720 dias após solicitar o resgate. Caso não queira aguardar, é obrigado a arcar com multa de 15% sobre o valor resgatado.
A intervenção no banco BVA pelo Banco Central trouxe problemas ao fundo Diferencial, conforme apurou Karin Sato, do Valor. Em outubro foram realizadas provisões na carteira para fazer frente às perdas esperadas. No total o prejuízo dos cotistas foi de aproximadamente R$ 240 milhões, equivalente a 36,4% do patrimônio da carteira.
Depois das perdas, muitos gestores de institutos de previdência estão tendo que justificar a decisão de investimento que tomaram. Talvez, também nessa hora, eventuais assessores independentes que recomendaram a aplicação no fundo Diferencial possam ajudar a explicar aos funcionários públicos as razões para o investimento ter dado tão errado.

Fonte: Valor Econômico – 28/11/2012

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