Cálculos são feitos sobre modelo atual de previdência no Brasil. Confiar que benefícios serão os mesmos no futuro é arriscado
Nos países desenvolvidos é comum que as pessoas tenham previdência privada ou outra forma de poupança para garantirem renda depois de parar de trabalhar. No Brasil, a situação é diferente.
O sistema previdenciário brasileiro tem, todo ano, um rombo bilionário que o governo tem de cobrir. Só em 2015 foram R$ 85 bilhões. É às custas desse prejuízo, que está crescendo, que a maior parte dos brasileiros consegue manter a renda depois de se aposentar.
Para outros, mais ricos, os benefícios pagos não são suficientes para que mantenham o padrão de vida depois de parar de trabalhar. Quem está perto dos 40 anos, hoje, se planeja para ter uma vida de mais de 20 anos de aposentado. A questão é que poucos se preparam para o período.
Pensando nisso, dois pesquisadores do Insper resolveram calcular quem precisa economizar ao longo da vida para não ter uma queda na renda depois de se aposentar.
O estudo “Será que o brasileiro está poupando o suficiente para se aposentar?”, de Ricardo Brito e Paulo Minari, traz uma resposta para os motivos que levam a maioria dos brasileiros a não poupar para o período de inatividade.
Diferença entre pobres e ricos
Os economistas Ricardo Brito e Paulo Minari calcularam as necessidades de poupança para diferentes perfis de renda e consumo: solteiros, casados, com ou sem filhos. O cálculo leva em conta fatores como a possibilidade de resgate do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço e gastos com impostos, que variam dependendo da renda.
Na comparação com os Estados Unidos, os autores do artigo constatam as peculiaridades do sistema brasileiro. Como o país é mais pobre, há uma parcela maior de famílias que dependem exclusivamente do benefício do sistema de previdência pública. Isso cria uma situação diferente. Os mais pobres, que já têm renda baixa enquanto trabalham, conseguem manter o padrão de vida quando se aposentam com o valor que recebem da Previdência. Para esses, pelo modelo atual, é menor a necessidade de poupança para complementar a renda além do benefício. A aposentadoria é baixa, como era a renda na ativa.
“Para famílias com renda inferior a 20 salários mínimos, considerando que tenham contribuído por mais de 35 anos para o INSS, o saldo do FGTS e o benefício mensal são mais que suficientes para manutenção do consumo”
O estudo chegou à conclusão de que alguém que tem 40 anos, um cônjuge e dois filhos e zero de poupança, por exemplo, só precisa se preocupar com a aposentadoria se tiver renda familiar maior que R$13 mil. Isso para que seja possível manter o padrão de vida no período de inatividade. Cerca de 91% das famílias brasileiras tem renda mensal abaixo desse valor, e conseguiriam se manter sem a necessidade de poupança complementar.
Riscos
Agora, quem se animou com a constatação deve levar em conta os riscos. O sistema previdenciário brasileiro é altamente deficitário e é difícil afirmar se as regras serão as mesmas dentro de alguns anos.
Por isso, mesmo que o governo de Michel Temer não consiga aprovar a reforma da Previdência, é possível que a conta fique grande demais em algumas décadas. Para quem não se aposentou ainda, os autores advertem.
“A total dependência do Estado é sem dúvida um plano ingênuo, pois não oferece seguro contra dificuldades fiscais, ou de preservação do valor dos fundos previdenciários sob responsabilidade do INSS ”