União Gaúcha debate superendividamento na visão da psicologia social

Os endividamentos, assédios de empresas e os golpes financeiros em aposentados e pensionistas vem sendo um tema recorrente nas reuniões da União Gaúcha, motivado pela demanda de casos que chegam para as entidades. Nessa semana, para tratar do assunto, dentro de uma visão da Psicologia Social, a UG convidou a psicóloga, professora, Dra. Inês Hennigen, que abordou a perspectiva do endividamento/crédito na construção da subjetividade. Caracterizou o sentido do termo endividamento no campo individual, social e econômico.

Como pesquisadora, Hennigen, buscou conhecer os discursos e práticas dos atores sociais envolvidos nas relações de consumo e crédito/endividamento. Para ela, que estuda o assunto há 15 anos, existem questões fundamentais para a problematização do endividamento; como a cultura do consumo, incremento da oferta de crédito, crise econômica, achatamento dos salários, etc. Além disso, o mercado financeiro passou a incorporar os segmentos potencialmente mais vulneráveis como os idosos/aposentados, com uma gama enorme de oferta de crédito de forma consignada e as propagandas mais agressivas com facilidades de financiamentos.

Em uma análise mais individual, explicou, não se descarta casos de compulsão pelo consumo, mas é sempre preciso levar em conta todos os aspectos envolvidos, bem como os sociais e econômicos. A vergonha e a culpa fazem parte da problemática desses consumidores superendividados. Hennigen explica que estar com o “nome sujo”, é um motivo de vergonha e tentar limpar tem o efeito moral, mas também o aspecto perverso, que induz ao consumo recorrente.

Na análise da especialista, a oferta de crédito é um fenômeno complexo. Internalizar exclusivamente no indivíduo as razões de superendividamento é um equívoco, representando inclusive uma violência . Romper com esse caminho que vem sendo hegemônico, exige o desenvolvimento de uma consciência crítica sobre a lógica financeira. Assim como o uso de álcool e cigarro, a financeirização (que envolve a solução dos problemas da vida via crédito/endividamento) precisa ser suficientemente problematizada. Tal propósito permite compreender melhor os vários aspectos que levam às situações do endividamento e os prejuízos à saúde dos indivíduos. Tratam-se de iniciativas como por exemplo, uma educação financeira nas escolas.

Na ideia de uma abordagem não conformadora dessa realidade do superendividamento como algo estritamente individual, geralmente está presente nas abordagens sobre educação financeira. Portanto, o fenômeno do endividamento, não diz respeito somente ao campo jurídico, por exemplo, mas configura-se em um grave e crescente problema social que necessita, para sua compreensão e enfrentamento, da articulação de diversas disciplinas, como o Direito, a Psicologia, o Serviço Social, a Educação e a Economia. A psicóloga concluiu dizendo que é preciso avançar na problematização do superendividamento e a abordagem da Psicologia Social oferece ferramentas para esse processo.

O tema é abrangente e, por essa razão, a União Gaúcha busca trazer diversas perspectivas para debater o assunto.

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