O IPE Saúde informa que, até a tarde desta quinta-feira, dia 03 de maio, ainda não recebeu qualquer informação oficial sobre a intervenção ou pedido para alteração dos dados cadastrais junto ao Sistema Médico Hospitalar (SMH) que nos permita direcionar o pagamento ao interventor do hospital Bom Jesus, localizado no município de Taquara.
Assessoria de Comunicação do IPERGS
Veja o caso:
IPE paga R$ 117,8 mil à empresa afastada da gestão de hospital por suspeita de irregularidades
Instituto de Saúde e Educação Vida (Isev) administrava unidade de saúde em Taquara até dezembro, quando a Justiça nomeou interventora, mas seguiu recebendo pagamentos do Estado em janeiro, fevereiro e março de 2018
O Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul (IPE), órgão que assegura o plano de saúde dos servidores públicos, fez pagamentos que somam R$ 117,8 mil a uma organização privada mesmo depois de a Justiça afastar a empresa da gestão do Hospital Bom Jesus (HBJ), em Taquara, no Vale do Paranhana. As cifras foram repassadas ao Instituto de Saúde e Educação Vida (Isev) em janeiro, fevereiro e março de 2018, contrariando decisão judicial.
“Determino ao município de Taquara e ao Estado do Rio Grande do Sul que se abstenham de repassar valores ao Isev”, escreveu o juiz Nórton Luís Benites, da 1ª Vara Federal de Novo Hamburgo, em decisão de 13 de dezembro de 2017, quando confirmou o afastamento do instituto por “graves irregularidades” no atendimento à população do município.
Na prática, os serviços hospitalares foram prestados pela Associação Beneficente Silvio Scopel (ABSS), nomeada interventora na administração do HBJ, mas os recursos do IPE-Saúde foram creditados ao Isev, apesar dele não ter atendido nenhum paciente no período.
Em 19 de dezembro de 2017, dia em que o Isev efetivamente deixou a gestão do HBJ, o magistrado fez novo alerta para que recursos públicos não fossem mais depositados em favor da entidade. Apesar disso, o IPE manteve os pagamentos. “Supreendentemente, o IPE continua repassando ao Isev, nos meses de janeiro a março de 2018, a quantia de R$ 117.892,25, referente aos serviços prestados no HBJ”, diz petição assinada pelo procurador da República Bruno Gutschow, do Ministério Público Federal (MPF).
Nesta manifestação, anexada ao processo eletrônico e remetida ao juiz, Gutschow requer que “intime-se o Isev para que devolva os valores indevidamente pagos”. Ainda não houve decisão. O procurador também solicitou a continuidade da ABSS na gestão provisória do hospital por mais 120 dias. Segundo o MPF, a empresa interventora tem demonstrado maior comprometimento e alcançado avanços desde o final de dezembro, embora persistam problemas na qualidade do atendimento a serem resolvidos.
Contrato sem licitação é ilegal, aponta MPF
Além tentar a retomada da administração, o Isev requer no processo que o Estado lhe pague R$ 298,4 mil para quitar dívidas de FGTS com seus antigos funcionários. A opinião do MPF é de que somente poderá ser definido se a entidade tem recursos a receber depois de a Secretaria Estadual da Saúde do governo de José Ivo Sartori fazer auditoria nas contas do HBJ. Determinado pela Justiça Federal no ano passado, o pente-fino ainda não chegou ao conhecimento do MPF e aos autos do processo eletrônico.
O Isev esteve à frente do hospital em Taquara entre 15 de abril de 2016 e 19 de dezembro de 2017. A contratação foi feita pela prefeitura, que concedeu o uso do prédio do HBJ. À pasta estadual, coube firmar o “contrato global”, no qual são previstos os valores a serem repassados para manutenção e estabelecidos os critérios de atendimento e funcionamento.
Para o MPF, que tem atuado em parceria com o Ministério Público Estadual (MP), as ilegalidades começaram logo na assinatura do contrato. Não houve licitação. Para dispensar a concorrência pública, a entidade definida como gestora precisa obrigatoriamente ser uma “organização social”. O Isev, ao contrário disso, é uma empresa privada, argumenta a procuradoria.
Cremers constatou “robusto conjunto de irregularidades”
Além dos problemas na contratação, o Isev teve a atuação no hospital classificada no processo judicial como “caótica”. O Conselho Regional de Medicina do Estado (Cremers) fez vistoria e emitiu parecer “indicativo de interdição ética, haja vista a constatação de um robusto conjunto de irregularidades”.
O conjunto probatório é robusto e indica quadro de graves irregularidades.
Juiz da 1ª Vara Federal de Novo Hamburgo, em decisão de 13 de dezembro de 2017, quando confirmou o afastamento do Isev da gestão do Hospital Bom Jesus
Nos 20 meses em que esteve à frente do HBJ, o Isev recebeu R$ 12,3 milhões do Estado e R$ 2,9 milhões da prefeitura de Taquara para manter os serviços de saúde. Mas a denúncia do MPF descreve a “falta de equipamentos básicos como seringas, medicamentos, lençóis e uma completa ineficiência na administração dos recursos públicos, inclusive com atrasos de meses no pagamento de médicos e fornecedores”. O aparelho de tomografia, por exemplo, estragou e foi registrada demora superior a 60 dias para a expedição de laudos de raio X. Ainda houve redução no quadro de profissionais e a prestação de contas era deficiente. “Faltam médicos, sendo que em 30 de junho de 2017, o único médico que atendia todo o hospital era o intensivista da UTI, que deixava o seu posto para fazer o atendimento das urgências”, escreveu o MPF.
Na sentença que afastou o Isev, o juiz afirmou que “o conjunto probatório é robusto e indica quadro de graves irregularidades”. Em razão dos fatos, determinou que o município providencie, dentro de 180 dias, processo de licitação para escolher nova administradora definitiva do HBJ. A prefeitura já abriu a concorrência pública.
O Isev refuta as acusações e garante a lisura da gestão no HBJ. A entidade garante que tinha direito aos valores recebidos do IPE mesmo após o afastamento. O instituto alega ainda que as dificuldades na gestão eram resultado do atraso no repasse de verbas por parte do Estado. O Isev também contesta a acusação do MPF de ilegalidade na dispensa de licitação para a contratação da entidade.
CONTRAPONTOS
O que diz o IPE
Em nota, informou que “não tomou ciência dos termos do processo pois não foi e ainda não é parte da ação. Confirmamos com a assessoria jurídica e não chegou nenhuma comunicação referente a esse processo”.
O que diz a prefeitura de Taquara, em nota
“O município tomou todas as providências que estavam ao seu alcance. Inclusive participou ativamente de comissão formada com o Ministério Público, com a participação de seu vice-prefeito. Desta comissão culminou a intervenção, que foi necessária para garantir a manutenção dos repasses de recursos pelo Estado para o Hospital Bom Jesus (HBJ), qualquer que seja a entidade que estiver administrando. O município contratou auditoria médica e está monitorando os serviços e abriu processo licitatório para conceder a permissão de uso do prédio do hospital, com critérios de qualificação técnica. O edital está disponível no site da prefeitura. A instituição que for vencedora deverá firmar contrato com o Estado.”
O que diz a Secretaria Estadual da Saúde
A pasta respondeu por e-mail perguntas da reportagem.
1 – A secretaria não deveria ter alertado o IPE sobre a impossibilidade de fazer pagamentos ao Isev depois do seu afastamento?
Informamos que o IPE não integra a estrutura da Secretaria Estadual da Saúde e, sim, a estrutura do governo do Estado.
2 – A realização em auditoria nas contas da gestão do Isev no hospital foi determinada há mais de quatro meses, mas segue pendente no processo. Por quê?
O relatório da auditoria foi entregue para a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) e já se encontra com o juiz.
3 – Qual a avaliação da pasta sobre os serviços prestados pelo Isev em Taquara?
Esta é realizada por uma comissão nomeada publicamente e que cabe a ela a divulgação dos resultados.
Fonte: ZH