Pesquisa aponta deficiência no atendimento do IPE Saúde no interior do RS

Durante a reunião desta segunda-feira (23/06), a União Gaúcha em Defesa da Previdência Social e Pública recebeu a apresentação de uma importante pesquisa sobre as condições do atendimento do IPE Saúde no interior do Rio Grande do Sul. O estudo foi conduzido pelo SINTERGS e UGEIRM Sindicato, e apresentado pela vice-presidente do SINTERGS, Priscilla Lunardelli, docente licenciada da Escola de Saúde Pública do Estado.

A pesquisa de opinião foi enviada para mais de 5 mil pessoas, todas associadas às duas entidades, por e-mail e grupos de WhatsApp. O levantamento ocorreu entre os meses de maio e junho de 2025 e teve como objetivo mapear as principais dificuldades enfrentadas por usuários do sistema de saúde do Estado.  A maioria dos respondentes disseram que usaram o sistema IPE Saúde nos últimos seis meses. O escopo do levantamento era obter dados referentes a associados que usaram os serviços do IPE Saúde recentemente, com a finalidade de que a avaliação fosse baseada em dados atualizados.

O que se constatou foi um retrato da precariedade dos serviços prestados pelo IPE fora de Porto Alegre. A maioria absoluta dos respondentes afirmou ter enfrentado dificuldade para acessar médicos especialistas, clínicas ou serviços de saúde credenciados em suas regiões. Em muitos casos, a resposta era direta: “não há atendimento” ou “todos os médicos cobram por fora”.

De acordo com Priscilla, todas as regiões do Estado estiveram representadas na amostra, com maior número de respostas nas regiões de Pelotas, Cruz Alta e Passo Fundo. Isso garante, segundo a dirigente, uma amostra distribuída e representativa do interior gaúcho.

Além da carência generalizada de especialistas — como endocrinologistas, oftalmologistas, ginecologistas, psiquiatras e pediatras — os relatos revelam ainda um padrão recorrente: existe médicos, mas há a prática de cobrança adicional ou indisponibilidade de agenda quando revelado o convênio IPE Saúde. Em Santa Maria, por exemplo, apesar de haver pediatras credenciados, não há pronto-socorro pediátrico disponível. Já em cidades como Encantado, David Canabarro e Ijuí, usuários relataram a inexistência de atendimento ou ausência total de credenciados em atividade.

A pesquisa mostra também que um dos pontos mais sensíveis diz respeito à falta de cobertura adequada no pré-natal e parto, especialmente para gestantes que desejam ser atendidas pelo mesmo profissional do acompanhamento. “Em muitos municípios, o parto pelo IPE só é possível por plantão, o que, embora seguro, não corresponde às expectativas culturais de boa parte das usuárias”, comenta Priscilla.

A psiquiatria, especialidade cuja demanda aumentou fortemente no contexto pós-pandemia e, mais recentemente, após as enchentes que atingiram o Estado, também figura entre os serviços mais críticos. A demora ou ausência de atendimento especializado impacta diretamente o bem-estar dos servidores e suas famílias, agravando ainda mais quadros clínicos.

Outra preocupação destacada foi a janela de atendimento no tempo oportuno. Casos como AVCs e infartos exigem reabilitação imediata, mas os prazos do IPE Saúde inviabilizam tratamentos fundamentais como fisioterapia e fonoaudiologia, comprometendo a recuperação e ampliando os custos futuros com cuidados prolongados, como home care.

Segundo Priscilla, o levantamento revela um “modelo disfuncional”, no qual a ausência de gestão preventiva, somada ao sucateamento dos serviços no interior, empurra os usuários para atendimentos emergenciais ou para o SUS, já sobrecarregado.

A pesquisa ainda mostrou situações como a de Tramandaí, onde clínicas credenciadas formalmente não realizam atendimentos ou exigem pagamento da primeira consulta. Já em Canoas, usuários relataram a falta de atualização nas listas de credenciados do site do IPE e, mesmo quando há nomes disponíveis, o atendimento não se concretiza.

Outra entidade que enviará dados de pesquisa semelhante é a APROJUS para complementar o trabalho. Diante dos resultados, a União Gaúcha os utilizará como base para pressionar o IPE Saúde e o governo estadual por mudanças urgentes, especialmente pelo credenciamento de médicos e clinicas no interior. “Precisamos de uma política de credenciamento séria, transparente e que funcione de verdade para quem está fora da capital. O que temos hoje é um sistema ineficiente, que compromete a saúde dos servidores e de seus dependentes”, concluiu Priscilla.

O relatório foi elaborado por Priscilla Lunardelli, com a colaboração de Fábio Castro, vice-presidente da UGEIRM, que também trouxe relatos complementares dos associados da polícia civil. A expectativa é de que o documento contribua para abrir canais de diálogo com o IPE Saúde e pressionar por soluções estruturais para o interior do Rio Grande do Sul. Durante a reunião,foi deliberado pela realização de audiência pública para tratar sobre o credenciamento de médicos pelo IPE Saúde, tendo vista a grande demora para que a autarquia providencie  a solução do problema que se arrasta há muito tempo.

Veja a pesquisa:

Pesquisa-Sintergs_Ipe-2025
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